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No dia 9 de maio é comemorado o Dia da Europa. Na BE e no hall principal estão expostos materiais sobre o tema, celebrando a “unidade na diversidade” dos 27 países membros da União Europeia.
A ideia de uma Europa unida existia nos sonhos de muitos intelectuais desde há muito. Em Portugal, em 1944-45, perante um continente destruído pela Segunda Guerra, escrevia Adolfo Casais Monteiro, de forma premonitória:
EUROPA
Europa, sonho futuro!
Europa, manhã por vir,
fronteiras sem cães de guarda,
nações com seu riso franco
abertas de par em par!
Europa sem misérias arrastando seus andrajos,
virás um dia? virá o dia
em que renasças purificada?
Serás um dia o lar comum dos que nasceram
no teu solo devastado?
Saberás renascer, Fénix, das cinzas
em que arda enfim, falsa grandeza,
a glória que teus povos se sonharam
— cada um para si te querendo toda?
Europa, sonho futuro,
se algum dia há-de ser!
Europa que não soubeste
ouvir do fundo dos tempos
a voz na treva clamando
que tua grandeza não era
só do espírito seres pródiga
se do pão eras avara!
Tua grandeza a fizeram
os que nunca perguntaram
a raça por quem serviam.
Tua glória a ganharam
mãos que livres modelaram
teu corpo livre de algemas
num sonho sempre a alcançar!
Europa, ó mundo a criar!
Europa, ó sonho por vir
enquanto à terra não desçam
as vozes que já moldaram
tua figura ideal,
Europa, sonho incriado,
até ao dia em que desça
teu espírito sobre as águas!
Europa sem misérias arrastando seus andrajos,
virás um dia? virá o dia
em que renasças purificada?
Serás um dia o lar comum dos que nasceram
no teu solo devastado?
Saberás renascer, Fénix, das cinzas
do teu corpo dividido?
Europa, tu virás só quando entre as nações
o ódio não tiver a última palavra,
ao ódio não guiar a mão avara,
à mão não der alento o cavo som de enterro
— e do rebanho morto, enfim, à luz do dia,
o homem que sonhaste, Europa, seja vida! (…)
Adolfo Casais Monteiro nasceu no Porto em 1908 e morreu em São Paulo em 1972. Exilara-se em 1954 no Brasil (onde ensinou em várias universidades, com uma breve passagem pelos EUA perto do fim da vida) por motivos políticos.
A sua juventude foi típica de um filho da burguesia portuense ilustrada e liberal, cedo revelando propensão artística. Ainda durante a sua licenciatura, na Faculdade de Letras do Porto, em Ciências Históricas e Filosóficas, estreia –se nas Letras com os poemas de Confusão (1929).
Também nesses anos inicia a sua colaboração com a revista coimbrã Presença, em cuja direcção se integra em 1931, formando o que se torna a direcção «definitiva» da folha de arte e crítica até ao seu fim (já em Segunda Série, em 1940). A sua criação literária é já nestes anos dominada por dois géneros: a poesia e o ensaio.
Em 1954, ano em que parte para o Brasil para participar num congresso mas já com a intenção de aí ficar e enviar uma «carta de chamada» para a mulher e o filho (João Paulo Monteiro, que se lhe juntará em 1963), publica Voo sem Pássaro Dentro (poesia) e vê um antologia de poema seus surgir em castelhano (Adolfo Casais Monteiro). No Brasil mantém actividade poética (surgirá em 1969, como original nas Poesias Completas, O Estrangeiro Definitivo), além de continuar a organizar antologias, com destaque para A Poesia da Presença (1959, no Brasil, 1972, Portugal), reeditada em Portugal (2003).
Tendo ensinado em várias universidades brasileiras, fixa-se em 1962 na Universidade de São Paulo, leccionando Teoria da Literatura.
Manteve sempre em vista a actividade artística e literária em Portugal (onde nunca voltou), como as dedicatórias dos poemas dos últimos livros deixam perceber. Depois de décadas sem que a ensura permitisse, sequer, a publicação do seu nome, em 1969 a Portugália Editora lança o volume Poesias Completas.
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